Fotografia


Metamorfose - João Castilho. 

Encontrei na net,  o trabalho “Metamorfose” de João Castilho. O fotógrafo esteve presente na Geração 00 com suas “Paisagens Submersas”. O “Metamorfose” é um ensaio inacreditavelmente simples, mesmo assim nos faz pensar e tirar conclusões. O fotógrafo reuniu 24 traduções do livro “A Metamorfose” de Franz Kafka e fotografou a primeira frase do primeiro capítulo de cada um deles. As fotos não são excepcionalmente bem enquadradas, não há rigor técnico algum (o que deve ser proposital porque a capacidade técnica de João Castilho está acima de qualquer julgamento). Apenas parte da página de cada livro, e foco no trecho do texto que o artista quis destacar.

O livro conta a história de Gregor Samsa, que, certo dia, desperta em forma de um inseto. Da mesma forma que o personagem, o livro sofre uma metamorfose cada vez que é traduzido. Essa é a leitura mais rasa, mas se formos um pouco mais além, vamos perceber que a obra deixa claro que a escrita, e, da mesma forma a fotografia, é algo subjetivo, que depende da interpretação e estilo de cada um. Mesmo ao contar uma história já escrita, cada tradutor imprimiu seu próprio discurso, sua própria maneira de contar a história.
Podemos continuar, é possível trocar os tradutores por fotógrafos e a obra de Kafka pelos temas tidos como “clichês”. Cada artista irá fazer à sua maneira, com a sua visão, sua abordagem.
É incrível como um trabalho tão simples, que não exige conhecimento técnico nenhum, pode ser tão profundo (odeio essa palavra). Apesar não exibir o refinamento técnico do fotógrafo, o ensaio mostra toda a cultura e a bagagem que o fotógrafo possui.
Às vezes ficamos pensando em projetos mirabolantes, ignoramos o simples por achar que qualquer um faria, deixamos pra lá o clichê porque não é original. Mas nos esquecemos que a fotografia (principalmente a autoral, mas, em maior ou menor escala, todas as outras modalidades também), em primeiro lugar, deve atender a nós mesmos. Temos que acreditar em nossas ideias e no que temos vontade de realizar. Essa é uma barreira que nos impede de criar e não é fácil rompê-la.